A Improvisação
A improvisação, arte da composição instantânea de melodias, sempre representou para mim algo muito intrigante e desafiador. Ao longo do tempo, busquei diversos meios de refinar essa técnica e me aprimorar nessa forma de arte. Para isso, utilizei vários recursos — principalmente a escuta ativa, o estudo de frases, escalas e harmonias, além da memorização e análise de solos de muitos artistas.
Após muitos anos de prática intensa e busca por aprimoramento, cheguei à conclusão de que tudo isso não faria de mim um grande improvisador, a menos que eu compreendesse com profundidade os aspectos psicológicos envolvidos na improvisação.
O Estado de Presença
É fundamental que o músico improvisador esteja realmente presente no momento da performance. O que quero dizer é que é necessário estar em um estado de concentração absoluta para criar bons improvisos. Todos os grandes mestres do jazz — como John Coltrane, Charlie Parker, Bill Evans e Miles Davis — sabiam muito bem da importância de cultivar essa capacidade.
Não nos cabe aqui julgar os métodos que eles utilizavam naquela época para potencializar essa habilidade. No entanto, posso assegurar que é perfeitamente possível atingir um estado pleno de presença de forma natural.
Uma forma eficaz de desenvolver isso é por meio da prática diária da meditação. Sente-se em uma posição confortável, feche os olhos, respire profunda e lentamente, e relaxe. Em seguida, tente permanecer por pelo menos três minutos e meio sem pensar em absolutamente nada. Caso algum pensamento surja, apenas deixe-o passar e continue focando no vazio.
Esse exercício simples, se feito diariamente, aumentará de forma significativa sua capacidade de concentração e foco durante a performance musical. Além disso, trará benefícios em outras áreas da vida, como o controle emocional, a conexão com seu interior, a redução da ansiedade e a melhora do sono.
Quanto mais presente você estiver, melhor será a música que criará, pois seu cérebro funcionará em sua capacidade máxima, sem interferências. Nosso cérebro funciona como um computador: se estiver totalmente dedicado a uma única tarefa, essa tarefa será realizada de forma otimizada. Por outro lado, se houver interferências de outras “aplicações” rodando ao mesmo tempo, o sistema pode travar ou ficar mais lento — o mesmo acontece com a mente durante a improvisação.
Em muitos momentos, você pode travar, errar uma frase, uma escala, ou simplesmente ficar sem ideias. Isso não acontece porque você é um músico ruim ou porque não estudou o suficiente, mas sim porque não está conseguindo manter um alto nível de concentração — o estado de presença necessário para uma performance de excelência.
Uma dica adicional: experimente manter os olhos fechados ao improvisar. Já reparou como muitos mestres do jazz fazem isso? Fechar os olhos ajuda a reduzir os estímulos externos, favorecendo o foco total no momento presente.
Concentrar-se plenamente não é simples, mas com prática é possível evoluir gradualmente. Continue estudando sua música do seu jeito, mas evite se cobrar demais no palco. Relaxe e pense em se divertir — apenas isso. Seu único adversário é você mesmo. Não importa se há 10 ou 10 mil pessoas na plateia: se você entender que a performance é um trabalho interno, o número de espectadores não terá influência sobre você.
Dessa forma, tenho certeza de que o nível da sua música crescerá exponencialmente, pois a arte que criamos é fruto direto de nossos sentimentos e da maneira como organizamos nossos pensamentos.
Por Lucas Brito