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Criatividade em Tempos de Inteligência Artificial: Técnica ou Imaginação?

"Os profissionais mais criativos geralmente não colocam a técnica no centro de suas preocupações. Eles simplesmente aprendem o necessário para realizar as ideias que brotam em suas mentes."


O Enigma da Criatividade 

Você já se perguntou por que algumas pessoas têm tantas ideias e são incrivelmente criativas, enquanto outras parecem ter pouca ou quase nenhuma imaginação? Pois então, essa pergunta me intrigou por muito tempo, e após observar atentamente diversos contextos, percebi um padrão recorrente: em qualquer ambiente, sempre há pessoas criando projetos inovadores, desenvolvendo produtos, fundando empresas e até mesmo conduzindo os outros a enxergarem o mundo sob novas perspectivas. 

Ao mesmo tempo, nesses mesmos ambientes, existem pessoas que, apesar de também possuírem grande capacidade criativa (que é inata a todo ser humano), optam por uma vida mais segura e previsível. Preferem seguir padrões já estabelecidos, priorizando o conforto e a estabilidade que esses caminhos oferecem. 

A grande diferença entre esses dois grupos não está na capacidade de criar, e sim na atitude diante do mundo. 

 

Criatividade e Técnica no Universo da Música 

Ao trazer essa reflexão para o universo artístico-musical, a diferença entre esses perfis fica ainda mais evidente. Existem artistas que estão sempre envolvidos em processos criativos — desenvolvendo projetos, compondo, produzindo e gravando — e há aqueles que, embora dedicados, concentram-se quase que exclusivamente na busca em executar a técnica perfeita de seus instrumentos. 

Com base nos meus anos de experiência na música, observei que os profissionais mais criativos geralmente não colocam a técnica no centro de suas preocupações. Eles simplesmente aprendem o necessário para realizar as ideias que brotam em suas mentes. Em muitos casos, esses artistas não seguem uma formação acadêmica formal — aprendem através da prática, do erro e da experimentação. 

Em contrapartida, artistas menos criativos tendem a valorizar mais os estudos formais, a teoria, os títulos acadêmicos e o domínio técnico. Usam predominantemente a razão em detrimento da emoção. E talvez seja justamente isso que limite sua criatividade: mentes excessivamente racionais tendem a se prender a padrões já existentes, deixando pouco espaço para a imaginação florescer. 

 

A Técnica Está Perdendo Espaço para as Máquinas? 

É importante frisar que meu objetivo não é julgar se o caminho acadêmico é melhor ou pior que o autodidata. Ambas as trilhas têm seus méritos e desafios. O que proponho aqui é uma breve reflexão sobre como a criatividade e a originalidade podem se tornar o diferencial mais relevante no cenário atual — especialmente com o avanço das inteligências artificiais. 

Estamos entrando em uma nova era em que a busca pelo domínio técnico pode deixar de ser uma prioridade. Hoje, existem ferramentas que transformam qualquer gravação em algo profissional — microfones que captam com perfeição, softwares que afinam automaticamente e recursos que corrigem imperfeições com um clique. E, cada vez mais, a IA está assumindo tarefas antes reservadas ao domínio humano. 

O que isso significa? Que os trabalhos puramente técnicos e mecânicos tendem a desaparecer — ou, ao menos, perderem muito do seu valor. Muitos músicos já fazem shows inteiros com playbacks ou produções feitas apenas com sons MIDI. Existem até IAs capazes de compor músicas inteiras. Nesse novo cenário, o verdadeiro diferencial de um artista será sua capacidade de criar algo único — algo que nenhuma máquina pode imitar: sua sensibilidade, sua imaginação, sua alma. 

 

O Futuro é da Imaginação 

Diante de tudo isso, chego à conclusão de que, no tempo em que vivemos, o uso pleno da imaginação se torna muito mais valioso do que o simples refinamento técnico, pois em breve, as IAs estarão resolvendo a maior parte dos nossos desafios práticos. Talvez agora seja o momento ideal para refletirmos sobre quem realmente somos e buscarmos, em nossa essência, o nosso verdadeiro potencial. 

É tempo de nos perguntarmos: como podemos contribuir de forma autêntica e significativa em um mundo onde as máquinas fazem quase tudo? A resposta pode estar exatamente onde sempre esteve — dentro de nós, no território fértil e ilimitado da criatividade. 

 

Lucas Brito 

Sobre a Performance e o Estado de Presença
"Nosso cérebro funciona como um computador: se estiver totalmente dedicado a uma única tarefa, essa tarefa será realizada de forma otimizada."